BBC Brasil
Aos sete anos, a americana Margaux Fragoso (foto) conheceu Peter Curran, 51, em uma piscina pública de Nova Jersey. Ele depois convidou a menina e sua mãe para visitarem a casa dele, onde Margaux se encantou com brinquedos, livros e, sobretudo, com a companhia de Peter.
“Li que os pedófilos racionalizam o que fazem ao pensar que é consensual mesmo que eles usem a coerção”, diz Margaux no livro.
“Passar tempo com um pedófilo é como estar drogado. É como se eles (pedófilos) fossem crianças também, mas com um conhecimento que as crianças não têm. Eles conseguem fazer o mundo de uma criança... incrível, de alguma forma. E, quando isso acaba, é como parar de usar heroína e, por anos, elas (as crianças) não conseguem parar de perseguir o fantasma dessa sensação.”
Família
A relação entre Margaux e Peter era facilitada pelo fato de que a menina vinha de uma família desestruturada: a mãe, com problemas mentais, é descrita como “devotada”, mas incapaz de cuidar da filha.
O pai, alcoólatra, chegou a impedir as idas de Margaux à casa de Peter, suspeitando das segundas intenções dele, mas acabou cedendo.
O primeiro contato sexual teria ocorrido quando a menina tinha oito anos. Margaux se lembra também de passeios, das brincadeiras em que eles personificavam animais – ela era o tigre – e de cartas escritas por Peter, prometendo a ela amor eterno.
Ao humanizar seu captor e explorar esse período da sua vida, a editora Douglas & McIntyre diz que Margaux “nos ajuda a ver como os pedófilos agem para roubar infâncias. E, ao escrever Tiger, Tiger, ela se curou de uma ferida que durou 15 anos”.
Peter (o nome é fictício) teria se suicidado aos 66 anos, dominado pela culpa e pelo medo de perder Margaux, que, mais velha, mudou sua percepção do relacionamento.
Críticas
As vívidas descrições do mundo de Margaux e Peter despertaram críticas variadas. Para alguns, o texto se assemelha a pornografia infantil. Uma resenha diz que a parte que descreve o primeiro contato sexual de ambos “é talvez a coisa mais indecente publicada em qualquer livro importante da última década”.
Em entrevistas, a autora defende que o livro ajuda o público a identificar as “táticas” usadas pelos pedófilos. “Eles são bonzinhos para ganhar confiança”, disse ela.
Uma crítica no New York Times diz que Tiger, Tiger “força o leitor a conhecer Curran tanto como o objeto do amor de uma menininha quanto um criminoso sexual que cultiva a dependência dela”.
Sobre o processo de produção do livro, Margaux – hoje casada e mãe de uma filha – diz que, como escritora, ela sabia que tinha que ver o lado real de Peter. “Era difícil aceitar isso, porque a criança dentro de mim queria acreditar em outra coisa, mas a minha parte adulta diz: ‘Não, sinto muito. Ele não é uma boa pessoa. É um monstro’”, disse ela ao jornal The Globe and Mail.
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