sexta-feira, 8 de abril de 2011

Governo chileno aprova anúncios publicitários em livros didáticos


                                                           Opera Mundi

Só faltava essa!

Entre o abecedário e a tabuada, estudantes menores de 12 anos estão recebendo nas escolas privadas do Chile um bombardeio de propagandas feitas por empresas multinacionais, como a Claro, do setor de telefonia, a Monarch, fabricante de bicicletas, e a Nestlé, gigante mundial produtora de alimentos.

Os banners, jingles e reproduções de outdoors aparecem entre diálogos de personagens infantis e inseridos em exercícios de leitura em voz alta. As editoras do Chile dizem não receber nada pela propaganda e o Ministério da Educação define o conteúdo como exemplos de textos “autênticos e de circulação nacional”.

Em alguns livros, os anúncios aparecem em página inteira. Em outros, sites de empresas privadas estão indicados no final das lições, como sugestão de leitura para os estudantes.

Em um dos livros, o enunciado convida o estudante a cantar: “Meu primeiro Claro (celular) é a forma mais legal de falar com meus amigos. Meu primeiro Claro é estar longe e me sentir em casa. Se fala Claro, é claro que tem mais.” O conteúdo é apresentado como um modelo de texto publicitário para alunos da 5ª série.

Carmen Ureña, vice-diretora do Grupo Santilla Chile, uma das maiores editoras do país, diz que “a utilização de marcas reais nos textos de Linguagem e Comunicação não constitui de forma alguma publicidade porque a editora não recebe dinheiro destas empresas para que figurem no material pedagógico”. Mais do que isso, ela conta que foi a editora quem pediu autorização das empresas para usar suas campanhas.

Os produtos “anunciados” são justamente os direcionados para o público infantil – conhecido no mercado publicitário por seu grande poder de influência nas compras e pelo baixo senso crítico em relação aos anúncios.

Muitos pais deram entrevistas a meios de comunicação chilenos protestando contra o ocorrido. Eles lembram que, ao contrário de um canal de televisão, os estudantes não podem virar a página ou mudar de canal para fugir da propaganda.

A conivência do Ministério da Educação já tornou-se alvo de críticas da oposição. O atual governo do Chile teve início há um ano e, desde o começo, esteve marcado pelas ligações irregulares entre o presidente Sebastián Piñera e inúmeras empresas privadas. Piñera, que figura na lista dos homens mais ricos do mundo produzida pela revista Forbes, governou durante meses sem se desfazer das ações que detinha da empresa aérea LanChile, de uma emissora de TV, um jornal impresso e do clube de futebol Colo Colo.

“O Ministério da Educação aprovou textos escolares com publicidade de celulares, sucos, meias e outras coisas. Não será demais?”, provocou pelo Twitter a presidente do Partido Socialista, Carolina Tohá.

Nenhum comentário:

Postar um comentário